Um mês após tragédia, famílias de São Sebastião vivem incerteza

Um mês após fortes chuvas e deslizamentos deixarem 65 pessoas mortas e uma desaparecida no litoral Norte do estado de São Paulo, as famílias atingidas enfrentam o luto pela perda de seus entes queridos e a incerteza sobre o futuro. Aproximadamente mil pessoas que tiveram suas casas destruídas, ou tornadas inabitáveis pelo mar de lama, vivem hoje temporariamente em pousadas e hotéis conveniados ao governo do estado. O convênio, de 30 dias, termina nas próximas semanas. 

Muita gente preferiu ir para casa de parentes ou se estabelecer em quartos emprestados, e não sabe até quando terá um teto. “Eu estou de favor em um quarto em Juquehy, em tempo de enlouquecer, de sair sem destino, sabe? Estou abalado, não sei qual o destino da minha vida. Não sei o que vai acontecer. Assim, é muita incerteza, só promessa”, conta Edvaldo Guilherme Santos Neto, de 39 anos, que teve que abandonar a casa em que morava em São Sebastião, na Vila Sahy, o bairro mais atingido pela catástrofe.

Entre a noite de 18 de fevereiro e a manhã seguinte, dia 19, choveu na região mais de 600 milímetros. O acumulado, segundo o Centro Nacional de Previsão de Monitoramento de Desastres (Cemaden), foi o maior já registrado no país. O grande volume de água devastou parte das cidades da região, causou mortes, deslizamentos de encostas, alagamentos, destruiu casas e estradas.

Guilherme, sua esposa e filho, estão abrigados hoje em uma pousada no bairro de Juquehy, em São Sebastião, em um quarto emprestado, pelo período de um mês, por uma amiga. A casa dele, na Vila Sahy, resistiu aos deslizamentos, mas está interditada pelas autoridades. Na casa vizinha, todos morreram, com exceção de um familiar, salvo pelos próprios moradores.

A casa de Guilherme recebeu da Defesa Civil o selo de risco laranja – usado quando a moradia não poderá voltar a ser habitada até uma avaliação das autoridades. O adesivo amarelo é utilizado para construções em situação de monitoramento, e o vermelho, para casas condenadas, que deverão ser destruídas.

“Eu não tenho psicológico para voltar para minha casa, mesmo se eles liberarem. E a Defesa Civil não dá um prazo de quando vai ser liberada. Fiz um empréstimo no Itaú e já sujei meu nome. Não sei o que fazer. Estou endividado pela minha casa, onde eu não posso morar. Não recebi nenhum amparo, nenhuma garantia de que eu vou receber algum valor desse imóvel, se ele não for liberado.”

Ele afirma que, após a tragédia, fez cadastro tanto na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) e no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da cidade. “Fizemos uns dez cadastros que eu nem sei para que que é. Eu sei que cadastro foi o que eu mais fiz e, até hoje, ninguém nunca me ligou nem para perguntar se eu preciso de um acompanhamento psicológico. Até agora estamos sobrevivendo da doação de cestas básicas.”