Nei Lopes falou a estudantes de escolas públicas no Rio de Janeiro
Homens negros, vestidos de branco, entraram primeiro na sala. Alguns mais velhos e outros mais novos, com suas cabeças devidamente protegidas por uma espécie de quepe. Chamados de ogãs, nas religiões de matriz africana, eles se posicionaram no centro do palco, diante de atabaques, e iniciaram toques saudando Exu. O orixá é conhecido por eles como o mensageiro, responsável pela comunicação entre as divindades, no orum e o ayê, o plano onde vivem os seres humanos. Eram integrantes da Orquestra Brasileira de Atabaques Alabê Fun Fun.
O ritual antecedeu a palestra do convidado Nei Lopes – escritor, compositor e cantor – sobre a afrodiáspora na América Latina. Aos 83 anos, completados no último dia 9 de maio, o intelectual, dono de quatro títulos doutor honoris causa concedidos por universidades (Federal do Rio Grande do Sul, Federal Rural do Rio de Janeiro, Federal do Rio de Janeiro e Estadual do Rio de Janeiro), de dois prêmio Jabuti, autor de 40 livros e de mais de 350 canções, Lopes é reconhecido como um oráculo, aquele que vê o futuro, por colaborar com o pensamento negro brasileiro, apontando caminhos e leituras sobre a história africana e afro-brasileira.
Ele falou nessa quarta-feira (28) a uma plateia de estudantes de escolas públicas, majoritariamente negros, em evento do Sesc no Rio de Janeiro. Lopes chamou para si a tarefa de apresentar momentos históricos e pensamentos que tentaram apagar a contribuição negra na formação do Brasil e estão na base do racismo estrutural e de desigualdade diversas entre brancos e negros, além de intelectuais e movimentos que alertaram para essa estratégia, como Frantz Fanon, da Martinica, e Carlos Moore, de Cuba.
“A grande tarefa das lideranças negras é fazer o povo negro elevar sua consciência, ou seja, desenvolver a consciência crítica para que se conheça adequadamente sua realidade, passado e presente. Só assim será possível afirmar a sua identidade e autoestima para ser finalmente produtivo e feliz”, explicou o pensador.