Dezembro chegou. É neste período que muitas pessoas fazem uma espécie de “balanço geral” dos últimos 12 meses e percebem que praticamente metade dos planos e objetivos traçados não foram cumpridos. O fim de mais um ciclo, ao lado das tradicionais festas de fim de ano, pode desencadear sentimentos de ansiedade, melancolia e até quadros de depressão e insônia em pessoas mais sensíveis. Isso tem até um nome: síndrome de fim de ano.
“A síndrome de fim de ano, ou a dezembrite, é um diagnóstico popular que não é formalmente codificado pela psiquiatria nem pela psicologia, mas é uma forma simples de nomearmos um sofrimento recorrente, que afeta várias famílias nesse período do ano”, explica o psicanalista Christian Dunker, que também é professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo a psicóloga Julia Rigueiro Silva, do Serviço de Psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein, a síndrome de fim de ano pode afetar qualquer pessoa e é uma forma de nomear um estado emocional, seja por fazer um balanço do ano que passou, seja por trazer lembranças, frustrações e lutos não elaborados.
Os sentimentos associados à síndrome de fim de ano são muito semelhantes aos de pessoas que vivem no hemisfério norte e relatam ter a “depressão de inverno”. Nesse caso, esse sentimento é chamado de transtorno afetivo sazonal, pois está relacionado à mudança de estação. “Quando o inverno começa a se aproximar, muitas pessoas ficam mais inquietas, com medo do que vai acontecer, temendo o estado de isolamento e as dificuldades que vêm com o frio. A síndrome de final de ano é uma reação parecida. Os sentimentos de ansiedade, de tristeza e melancolia podem aparecer”, diz Dunker.
O que desencadeia o problema?
Há várias razões que ajudam a explicar por que as pessoas ficam mais melancólicas nesse período. Primeiro, é um momento de transição, marcando o encerramento de um ciclo, o que provoca angústia e um estado genérico de temor pelas mudanças que virão com o início do novo ano. “Esta é uma data em que muitas pessoas tomam decisões. Pode envolver mudança de emprego, separação de casal, mudança de casa, de cidade. É um conjunto de circunstâncias”, explica o psicanalista.
O segundo ponto é que, especialmente no Natal, as pessoas geralmente participam de celebrações que envolvem reuniões familiares, com amigos e colegas de trabalho. Este período é compreendido por muitos como um momento de renovação, reencontro e festividades, mas pode trazer à tona possíveis conflitos dentro da própria família que podem não estar bem resolvidos.