A carta era ameaçadora e tinha conteúdo terrorista. Falava em guerra e derramamento de sangue sem dó, caso os líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) transferidos da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau para presídios federais não fossem trazidos de volta para o estado de São Paulo.
O nome do alvo principal aparecia logo na primeira linha: Lincoln Gakiya, o promotor de Justiça do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) de Presidente Prudente, responsável pela remoção de 22 presos da cúpula do PCC para penitenciárias federais.
A correspondência foi escrita pelo preso Alisson Gabriel da Silva, 33, o Café, integrante do PCC, na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, e entregue em 29 de abril de 2021 para a assistente social Luciana Cristina Ferreira, 49, funcionária da unidade prisional.
Na mensagem, o autor reivindicava o “retorno dos parceiros que estão nos presídios federais, alguns há oito anos e outros há quase três anos, sofrendo opressões”. O preso alertava que o “PCC não iria ficar de braços cruzados e que o crime estava unido, organizado e pronto para lutar”.
Em outro trecho, o autor ressaltava que “não iria medir esforços para ter os irmãos de volta” e lembrava que o PCC agiu assim antes, matando um agente penitenciário federal em Mossoró (RN). O preso se referia ao assassinato de Henry Charles Gama Silva, morto em 2017 a mando da facção criminosa.
O preso pediu à assistente social que a carta fosse encaminhada à época ao governador de São Paulo, João Dória (PSDB), porque o PCC sabia que “dependia dele para assinar o retorno dos nossos parceiros para o estado de origem”.
A direção da P-2 de Presidente Venceslau abriu procedimento interno disciplinar para apurar possível falta grave cometida por Café e também avisou a Polícia Civil. O presidiário foi ouvido em inquérito, mas negou ter escrito a correspondência.
Café foi submetido a exame grafotécnico. O laudo de número 281.344/2021, assinado em 16 de setembro de 2021 pelo perito criminal Henrique Takashi Mitsuyasu constatou que o preso Alisson Gabriel da Silva escreveu a carta de próprio punho.
UOL