Metroviários dizem que privatizar serviços pode encarecer tarifas

Também são reivindicadas melhores condições de trabalho

Os funcionários da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) realizam hoje (2) greve unificada para reivindicar melhores condições de trabalho e contestar a privatização dos serviços. Eles denunciam que transferir o controle do poder público para a iniciativa privada deve encarecer tarifas e piorar a qualidade dos serviços.  

Na estação Barra Funda, onde é possível embarcar em linhas de trem, ônibus e metrô, lideranças de movimentos que apoiam a greve se organizaram para traduzir à população da capital paulista o que significa a privatização e informar os motivos da greve. Somente pelo metrô da Barra Funda transitam, em média, cerca de 60 mil passageiros por hora, em momentos de pico.

“Não existe greve ilegal. Não é só por direitos, é por melhoria de serviços. Rico não trabalha, pobre trabalha. A pobreza enriquece o país e não tem o direito de circular no país”, discursou uma liderança popular ao microfone, em meio a alguns protestos de transeuntes que demonstraram irritação e incompreensão quanto à greve.

Contra a privatização

Raquel Brito, que integra o diretório da Unidade Popular na capital, afirmou à Agência Brasil que a mobilização no local e em outros endereços, junto à população, tem por objetivo esclarecer que todos perdem com a privatização e que todos estão do mesmo lado da história. “As empresas públicas são patrimônio. Privatizar é muito ruim, inclusive para os usuários. A empresa privada tem como meta o lucro e isso faz com que o serviço piore e a tarifa aumente. A greve é um instrumento histórico de luta e tudo que se conseguiu de direitos foi por meio dela”, argumentou.

A operadora de máquinas fixas Genilda Matos, empregada em uma fábrica de produção e manutenção de equipamentos cirúrgicos, sabia que haveria paralisação do transporte nesta terça-feira e que parte das linhas estaria funcionando normalmente, mas não que a linha que pega todos os dias estaria indisponível. Ela mora zona norte e trabalha em Vila Prudente, utilizando sempre três linhas de ônibus e uma de trem para se deslocar de casa ao trabalho. “Não tenho como trabalhar de casa e também não sei chegar de ônibus ao trabalho. Mas meu patrão entende a situação”, explicou. 

Questionada sobre sua posição quanto à privatização, Genilda demonstra surpresa. “O que é privatização? Sobre isso, não sei nem o que responder.” Quando a reportagem explica o possível efeito da desestatização, ela faz sua avaliação rapidamente: “É isso não é bom mesmo.”

Linha vermelha paralisada

A técnica em farmácia Denise da Silva faz o percurso de casa, no município de Barueri, até o trabalho, no bairro da Penha, na capital, através da linha vermelha do metrô, hoje paralisada, levando duas horas para completar o trajeto. “Sei que os trabalhadores precisam ter melhores salários e melhor serviço, mas a greve prejudica a gente também. Acho que, se houvessem outras alternativas para se fazer isso [a reivindicação], seria bom”, disse ela, que acrescenta que conhece pessoas que dependem das linhas de transporte já privatizadas, como a 8 e a 9 do trem, e relatam ter problemas diários como a lentidão. Além disso, ela reconhece que há chances de a privatização aumentar a tarifa dos serviços. 

A técnica de enfermagem Eni Duarte reside em Itapevi e vai também, todos os dias, até a Penha, de transporte público. O tempo médio que gasta fazendo o trajeto é de uma hora, entre uma linha de trem e outra de metrô. Ela se diz a favor da greve e contra privatização. 

“Porque você privatizando, a tarifa acaba aumentando. Por exemplo, a energia elétrica. Com a privatização, acaba saindo do nosso controle. Não dos empresários, mas da gente, sim”, observou.

“A greve é uma forma de luta, e a população não entende. As pessoas não procuram saber a causa da greve. Claro que, quando subir a tarifa, vão procurar saber. Aí, já é tarde. O brasileiro não procura se mobilizar coletivamente”, finalizou.