Proposta de regulação de mídia do presidenciável petista pode prejudicar os negócios da família Marinho
Em entrevista à Rádio Clube, de Recife, o ex-presidente Lula voltou a defender o projeto do PT de regulação da mídia e criticou mais uma vez a TV Globo.
“Não adianta as pessoas falarem que eu quero impor censura. Eu sou vítima de censura. Você sabe há quantos anos a Rede Globo de Televisão fala mal de mim e não dá direito de resposta? Desde 2005. Esses caras vêm falar de censura para mim? Não. Eu quero liberdade de imprensa”, disse.
Mudar as regras de funcionamento da mídia tem sido um tema recorrente nas manifestações de Lula em sua pré-campanha à Presidência da República. “É preciso que haja regulamentação”, insistiu ao falar com a rádio pernambucana.
“Você não pode regulamentar a imprensa escrita. Mas você tem a internet para regular, você tem o sistema de televisão. A última regulação no Brasil foi a de 1962”, argumenta.
Na campanha de 2018, o PT ressaltou sua proposta de novo marco regulatório da comunicação social eletrônica. “A medida se mostra fundamental para impedir que beneficiários de concessões públicas de TV e controladores de novas mídias restrinjam o pluralismo e a diversidade”, diz texto no site do partido.
Lula e seus discípulos querem “o fim dos monopólios e oligopólios diretos e indiretos, que é a situação em que poucas empresas detêm o controle da maior parcela do mercado em que estão inseridas”.
Pretendem limitar a “propriedade cruzada”, ou seja, impedir que uma mesma companhia seja dona e controladora de diferentes mídias, como emissoras de TV e rádio, portais de internet, jornais e revistas.
Na prática, o projeto do PT atinge as duas maiores redes de televisão do País, Globo e Record TV. Ambas possuem negócios nas outras áreas descritas.
A principal prejudicada seria, obviamente, a empresa do clã Marinho, por conseguir as maiores receitas – deve faturar R$ 15,7 bilhões este ano, de acordo com estimativa da agência Fitch – atuando em diferentes setores e plataformas de mídia.
Lula defende ainda uma regra que obrigue os meios de comunicação a conceder direito de resposta a quem se sinta atingido sem a necessidade de conseguir uma decisão judicial para isso.
Todas essas mudanças não são possíveis apenas na ‘canetada’ de um presidente. O Congresso precisaria aprovar alterações no Código Brasileiro de Telecomunicações. Uma negociação difícil já que muitos parlamentares são donos de TVs, rádios e outros veículos de imprensa.
Alegando ter sido caluniado, Lula pediu inúmeras vezes espaço no jornalismo da Globo para contestar matérias desfavoráveis a ele exibidas principalmente no ‘Jornal Nacional’. A emissora o ignorou.
O ex-presidente afirma reiteradamente que o canal líder em audiência teve responsabilidade em sua condenação por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele ficou 580 dias preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, entre abril de 2018 e novembro do ano seguinte.
A Globo sempre negou ter sido tendenciosa na cobertura dos governos petistas e do processo que resultou na sentença de Lula. O canal atacado tanto pela esquerda quanto pela direita diz agir com “isenção e imparcialidade”.