Pais de dois filhos, um menino de 3 anos, e uma menina recém-nascida, o casal abastado norte-americano Simone, 35, e Malcolm Collins, 36, quer ter mais cinco. Mas o desejo não é porque gostam ou não de crianças.
Com taxas de natalidade caindo em vários países, eles querem que cada um de seus descendentes tenha oito filhos nas próximas 11 gerações para que assim a linhagem Collins supere o número da população humana.
O casal rico de Dallas não está sozinho nessa missão. O chamado “movimento pró-natalista” tem atraído atenção de um grupo secreto composto por bilionários, como é o sul-africano Elon Musk, que possui dez filhos. Também tem estimulado o surgimento de startups de bioengenharia para que pais possam escolher a melhor genética possível para o embrião. A ideia é que a linhagem da família se torne cada vez mais superior.
Um embrião com mais “colunas verdes”
Uma das empresas de tecnologia mais famosas do ramo é a Genomic Prediction, dos Estados Unidos. Foi através dela que os Collins escolheram o embrião para feritilização in vitro do terceiro filho. Simone e Malcolm optaram por uma menina após se submeterem ao exame “LifeView”, que oferece pontuações de risco para 11 possíveis distúrbios poligênicos, como esquizofrenia e cinco tipos de câncer.
De posse de uma planilha na qual cada linha representava um embrião e cada coluna um possível fator de risco genético, os Collins decidiram priorizar o com melhor desempenho na categoria “traços adjacentes ao desempenho mental”. Nela, eram avaliados estresses, chances de sofrer com depressão, alterações de humor, ansiedade e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
Assim, o embrião da linha número 3 foi o selecionado por apresentar mais colunas verdes.
Apesar disso, o teste não é garantia de que a futura filha dos Collins deixará de ter algum problema mental, pois é levado em conta apenas a genética, sem considerar o mundo social no qual a criança terá contato no futuro, podendo afetar o caráter e o comportamento dela.
O casal nega que isso seja uma espécie de escolha sobre quem vai ou não nascer.
“Eu não estou eliminando pessoas. Quer dizer, estou eliminando do meu próprio ‘pool’ genético”, se contradiz Simone em entrevista ao site Business Insider. Já Malcolm acredita que, se forem bem-sucedidos no plano traçado para as próximas 11 gerações , os Collins podem “definir o futuro de nossa espécie”.
Combo de privilégios: dinheiro, classe social e agora DNA
Stephen Hsu, co-fundador da Genomic Prediction, admite que a escolha pelo melhor embrião por famílias ricas, algo possibilitado pela tecnologia, vai acentuar ainda mais a desigualdade no futuro, pois além de já nascerem em lares bem-sucedidos financeiramente, os bebês terão pré-disposições genéticas melhores e deverão ser mais saudáveis do que os mais pobres, que não podem pagar.
Na Genomic Prediction, por exemplo, o teste poligênico custa US$ 1 mil (mais de R$ 5,3 mil) US$ 400 (R$ 2,1 mil) por cada embrião analisado, segundo a agência de notícias Bloomberg. Ou seja, quanto mais análises, maiores os custos.
De certa maneira, é a forma mais brutal de desigualdade. Esse cara vai ser capaz de ter 20 filhos e, na verdade, 20 muito, muito saudáveis, tão bons quanto a tecnologia moderna pode torná-los; enquanto outras pessoas não podem se valer disso. Stephen Hsu ao Business Insider.