Tecnologias de irrigação, biotecnologia e intercâmbio de recursos genéticos serão os focos da parceria
Em visita à Sede da Embrapa no dia 17 de fevereiro, Maen Masadeh, embaixador no Brasil do Reino Hashemita da Jordânia, reafirmou a Guy de Capdeville, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, o interesse do país em formalizar cooperação técnica com a Empresa. O alto nível da tecnológico da agricultura brasileira foi o que motivou a vinda do diplomata, que teve como principal motivo o desejo de incrementar as práticas agrícolas na Jordânia. Hoje, essa atividade representa cerca de 4,5% do PIB daquele país, que tem como principal atividade econômica a exploração de minérios. Ele esteve acompanhado por Faris Al-adwan, primeiro-secretário da Embaixada.
Um dos maiores entraves ao crescimento agrícola da Jordânia é a escassez de recursos hídricos. Por isso, uma das principais áreas de interesse na cooperação técnico-científica a ser iniciada com a Embrapa são as tecnologias de irrigação. Outros campos que devem ser contemplados na parceria são a biotecnologia, especialmente para melhoramento genético de plantas e animais adaptados às condições climáticas do país, e intercâmbio de material genético.
Capdeville destacou o interesse da Embrapa na cooperação, que será conduzida entre a Embrapa e o Instituto de Ciências Agrícolas da Jordânia (Jordan Agricultural Research Center). Ele designou o assessor Alexandre Amaral, da DE-PD, para ser o interlocutor central dessa parceria e, em breve, o embaixador informará o nome do especialista jordaniano que representará o país nessa articulação.
O diretor e o embaixador combinaram que, em breve, será realizada uma videoconferência entre os especialistas dos dois países nas áreas de interesse para que sejam definidos os focos de cooperação.
Capdeville lembrou ainda que a Embrapa mantém hoje cooperação com mais de 100 países e que é de extremo interesse ampliar cada vez mais esse leque, visando ao compartilhamento de expertises em ciência, tecnologia e inovação.
Segundo Masadeh, a Jordânia é hoje um dos principais importadores dos produtos agrícolas brasileiros, especialmente frango, carne, soja e frutas, entre outros. Capdeville pontuou que os dois países mantém boas relações comerciais e podem estender essa integração para a área científica.
Tecnologias de enfrentamento à seca
O diretor de P&D apresentou a estrutura da Embrapa, com unidades de pesquisa em praticamente todo o Território Nacional, lembrando que essa capilaridade e esforços integrados em rede facilitam os resultados de PD&I e a transferência de tecnologias ao setor produtivo.
Uma das tecnologias ressaltadas por Capdeville, que pode ser de grande interesse para a Jordânia por suas condições climáticas, foi a que identificou uma bactéria no mandacaru, cacto da região da Caatinga, capaz de ajudar as lavouras de milho brasileiras a suportarem a seca. Denominada Bacillus aryabhattai, ela é a base de um novo bioinsumo, chamado comercialmente de Auras, que aumenta a resiliência e a capacidade de adaptação das plantas do cereal ao estresse hídrico.
O diretor destacou também a tecnologia de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) que, apenas em uma cultura, a da soja, representa para o Brasil uma economia seis vezes superior ao orçamento da Embrapa (cerca de 3,5 bilhões) por ano na redução de uso de fertilizantes nitrogenados. Esse conhecimento foi estendido também à liberação de fósforo do solo, a partir de duas bactérias, e resultou no produto BiomaPhos, desenvolvido em parceria com uma empresa provada, que rendeu R$ 105 milhões ao País em 2020 com aumento de produtividade de soja e milho.
Jordânia em busca de segurança alimentar
O embaixador Masadeh reiterou o interesse na cooperação com a Embrapa, especialmente pelo alto nível científico e tecnológico da agricultura brasileira. Segundo ele, uma das prioridades do país árabe hoje é reforçar as práticas agrícolas no país para que se torne menos dependente de exportação e possa garantir a segurança alimentar de sua população.
“Por isso, temos grande interesse no intercâmbio de material genético em busca de espécies agrícolas adaptadas às nossas condições climáticas. Contamos também com o compartilhamento de expertise nas áreas de biotecnologia de forma a desenvolver variedades de plantas e animais tolerantes às condições áridas do país”, reforçou.
Capdeville lembrou que o Brasil também possui regiões com condições climáticas similares às da Jordânia, como o semiárido, e que por isso, a Embrapa detém forte conhecimento científico nessa área.
O diretor convidou o diplomata a visitar a unidade de Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, DF, onde está localizado um dos maiores bancos genéticos do mundo, com mais de 120 mil amostras de sementes de cerca de 750 espécies.
Capdeville sugeriu também uma visita à Embrapa Hortaliças para conhecer o modelo para produção de hortaliças em fazendas verticais, que também pode ser uma solução tecnológica de grande interesse para a Jordânia porque permite a produção de hortaliças em locais fechados e dentro de centros urbanos e. por serem fazendas indoor, não estão sujeitas a impactos climáticos ou sazonalidade de culturas.
Como encaminhamentos, a Embrapa e a Embaixada darão início aos trâmites burocráticos para formalização da parceria e, em breve, será realizado um encontro virtual com especialistas dos dois países.
Fernanda Diniz (MtB/DF 4685/89)
Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento (SPD)