Caça está mais difícil de encontrar e agrotóxicos contaminam água
“A gente nunca irá deixar de ser indígena”. É com essa frase que o cacique Ademir Rikbakta, da aldeia Beira Rio, da Terra Indígena (TI) Erikpatsa, fala sobre a importância da preservação da cultura do povo Rikbaktsa.
“A gente conversa muito com a comunidade. Aprendi assim com meu pai. A gente conversa muito na língua. Temos dança tradicional e a chicha é nossa bebida. Nunca vamos deixar de fazer cultura. Hoje, estou com meu povo lutando”.
A aldeia Beira Rio foi uma das três visitadas pela equipe da Agência Brasil nos dias 8 e 9 de abril. A luta da qual fala o cacique Ademir Rikbakta fica clara quando se sobrevoa a região. Os trechos de Floresta Amazônica disputam espaço com as fazendas de cultivo de soja e milho e de criação de gado. A Terra Indígena, cercada por lavoura, sente os impactos de ter cada vez menos caça e menos peixes nos rios, além de contar menos polinizadores para manter as plantas da região.
Os Rikbaktsa, de acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), vivem na bacia do Rio Juruena, no noroeste do Mato Grosso, nas TI Erikpatsa, Japuíra e Escondido. São 34 aldeias distribuídas pelos territórios, e o povo tem um histórico de luta em defesa de suas terras: até 1962, os Rikbaktsa resistiram contra os seringueiros que avançavam na região para a extrair borracha.
Na década de 1960, os jesuítas, financiados pelos seringueiros, foram os responsáveis pela chamada “pacificação” do povo. O processo levou à dificuldade do ensino da língua materna, uma vez que as crianças, em internatos, eram punidas ao falarem o próprio idioma e obrigadas a se comunicar em português. Com isso, a língua Rikbaktsa passou a ser a segunda mais falada, principalmente entre a população mais jovem. A dita pacificação também levou ao adoecimento e morte de 75% da população e à perda de território.