“Foi meu primo quem encontrou os corpos. A menina estava morta em cima da tábua de passar roupa”. Regina Lisboa, de 51 anos, conta, com poucas palavras e muito medo, sobre o assassinato da neta, Joane Nunes Lisboa, de 17 anos, da filha, Márcia Nunes Lisboa, 39, e do genro, José Gomes, 61. A família foi encontrada morta em São Félix do Xingu (PA), no início de janeiro, nos arredores da casa onde vivia, com ao menos 18 cápsulas próximas aos corpos.
Conhecido como “Zé do Lago”, José Gomes, o padrasto de Joane, era um ambientalista e mantinha na região, a cerca de mil quilômetros de Belém, um projeto de criação de tartarugas. Além disso, a família vivia em uma área alvo de disputa.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), vinculada à Igreja Católica, aguarda as investigações para confirmar se o crime ocorreu em razão de conflitos rurais. Se assim for, o assassinato de Joane entrará para uma estatística que só vem aumentando nos últimos anos: a de crianças e adolescentes vítimas da violência no campo.
Para além das mortes, há dezenas de casos de ameaças, agressões, tortura, estupro e contaminação por agrotóxico e outros crimes. Somente em 2021 foram ao menos 68 desses casos de violência — o maior índice em cinco anos —, segundo uma análise inédita realizada pela CPT a pedido da Repórter Brasil.