Difícil entender os motivos que levaram o presidente da Biblioteca Nacional a homenagear com a medalha da Ordem do Mérito do Livro um grupo de radicais bolsonaristas, essa gente tão apreciadora da leitura quanto Lima Barreto era íntimo das espingardas.
Obviamente, a ordem veio de cima. Se a intenção era tripudiar com a “esquerda” (é assim que o bolsonarismo classifica qualquer grupo que admire minimamente a cultura), basta imaginar o momento da solenidade para concluir: o tiro saiu miseravelmente pela culatra.
Quem duvidar, feche os olhos e tente reconstituir o momento em que o deputado marombado Daniel Silveira (PTB-RJ) entrou na Biblioteca Nacional (certamente pela primeira vez). Vaidoso, deve ter-se imaginado por cima da carne seca, sem desconfiar que os autores que povoam os livros ali guardados o espreitavam, debochados.
Machado de Assis certamente repetiu para si mesmo, em alguma estante, a frase que escreveu em crônica de 1861, no Diário do Rio de Janeiro: “Em nosso país a vulgaridade é um título, a mediocridade um brasão”.