Golpe do cheiro: passageiras denunciam nova armadilha contra mulheres que pegam Uber

Há poucos minutos dentro do carro de um parceiro da Uber, Laura* sentiu um cheiro forte e a visão turva. Foi então que ela percebeu se tratar do novo “golpe do cheiro”

O que seria mais um trajeto de volta para casa depois de um dia de trabalho se tornou o momento de maior horror da vida de Laura*, 21, residente do Grande Recife. Em poucos minutos dentro do carro de um parceiro da Uber, ela sentiu um cheiro forte e a visão turva. Foi então que ela percebeu se tratar do novo “golpe do cheiro”, estratégia recém denunciada por passageiras de transportes de aplicativo.

“Eu olhei para o retrovisor e ele (motorista) estava olhando pra mim pelo espelho, como se estivesse esperando algo. Daí caiu a minha ficha. Se eu ficasse mais um segundo lá, iria desmaiar”.

O novo “golpe do cheiro” tem sido uma possível estratégia de dopagem de passageiras, usada por criminosos. Nos últimos dias, mulheres de vários estados do Brasil que usam transporte por aplicativo estão denunciando nas redes sociais situações em que teriam sido vítimas da armadilha.

Segundo o professor de química Rogério Lemos, as substâncias químicas usadas no “golpe do cheiro” pode se tratar de Éter, Clorofórmio e Etanol.

“O Éter quando inalado prejudica na absorção do oxigênio pelo corpo. Então, quem inala se sente tonto, com náusea e pode perder a consciência”, explica o especialista.

Ainda de acordo com Rogério Lemos, a estratégia usada para que só as vítimas sejam intoxicadas pelo químico é o local onde ele é aplicado. “Provavelmente a substância é liberada apenas na parte de trás do carro, no banco, por exemplo. O uso de máscaras PFF2 ou N95 pode evitar a intoxicação”, concluiu o especialista.

PASSAGEIRA RELATA SER VÍTIMA DO “GOLPE DO CHEIRO”

NE10
NE10 – NE10

Foi através de uma publicação explicativa nas redes sociais sobre os casos que a estudante Laura* percebeu o que estava acontecendo com ela e conseguiu agir. Ela solicitou a corrida no aplicativo da Uber às 17h55 da quinta-feira (2).

“Com menos de cinco minutos de corrida eu senti meu com o corpo fraco, ficando sem ar. Eu não acreditei que aquilo estava acontecendo comigo. Graças a uma reportagem que tinha lido sobre o assunto foi que percebi do que se tratava e tentei sair do carro.”

Ao sentir a perda da consciência, a jovem pediu para sair do carro ainda antes de chegar ao destino final. Foi então que ela desceu do veículo em meio a Estrada dos Remédios, na Zona Oeste do Recife, e buscou ajuda em uma clínica de psicologia que estava aberta.

“Falei ao motorista que queria sair do carro, com a maior cara de apavorada, ele olhou pra mim e disse: ‘É só puxar (a tranca) duas vezes’. Achei que ele estava brincando comigo e que iria trancar a porta”, relata Laura*

“Ele não se ofereceu pra encostar o carro, não perguntou o motivo, não falou nada, só aquilo. Mas ainda bem consegui abrir a porta e saí correndo, com bolsa, celular na mão e tudo.”

MAIS DE UM CASO

O mesmo aconteceu com a estudante Aline*, 20, na Zona Sul do Recife. Enquanto voltava para casa às 19h20 da terça-feira (1º), ela sentiu um desconforto dentro do carro de um motorista parceiro da Uber.

“Eu pedi a corrida como qualquer outra, entrei no carro e já senti um cheiro doce muito forte mas não desconfiei de nada. Quando ele parou no sinal foi que percebi que estava muito tonta, não conseguia prestar atenção no que eu estava escrevendo no celular”, relata a jovem.

Ao perceber que estava perdendo a consciência, Aline* tirou o cinto e saiu do carro. “Eu estava prestes a desmaiar, ele (motorista) ficou me olhando e eu pedi para abrir a janela. Ele contestou, disse que estava chovendo. Mas quando eu abri a janela vi que não estava.”

Segundo Aline*, ao deixar o veículo, ainda antes do seu destino final, ela ouviu o motorista contestar a atitude. “Eu saí do carro ele ainda falou: ‘espera!'”.

UBER

Ambas as passageiras reportaram ao aplicativo Uber o ocorrido com os motoristas parceiros, mas encontraram dificuldades em alguns sistemas de segurança e denúncia da plataforma.

Arquivo pessoal
Passageiras reportaram a Uber sobre o acontecido. – Arquivo pessoal

“Eu já tomava alguns cuidados antes de começar uma corrida com algum motorista de aplicativo por ser mulher e jovem. Me sinto insegura. Quando comecei a ficar sem ar, prestes a desmaiar, a primeira coisa que fiz foi tentar compartilhar a corrida no grupo da família, mas o aplicativo mudou o formato de compartilhamento de viagem e tá a maior burocracia agora (não dá mais pra copiar o link da viagem como era antes) e não consegui avisar a ninguém da minha localização”, afirma Laura*.

Já Aline*, reclama da dificuldade em reportar o caso do novo “golpe do cheiro” para a plataforma. “Relatei o caso para a Uber, mas não tem a opção denunciar casos de sequestro, então eu reportei como assédio sexual.”

Laura* afirmou a reportagem que não irá prestar Boletim de Ocorrência por medo. Já Aline*, pretende abrir um B.O contra o motorista.

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