Abril Amarelo mostra a médicos melhor conduta para tratar câncer ósseo

A campanha “Abril Amarelo”, que a Associação Brasileira de Oncologia Ortopédica (ABOO) desenvolve este mês para alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer ósseo, tem os médicos como foco principal. O presidente da ABOO, Edgard Engel, disse que por se tratar de doença rara, os próprios profissionais têm dificuldade de saber qual é a melhor conduta para o tratamento.

“Por isso, a gente optou por fazer uma campanha direcionada ao médico que se depara com um paciente com tumor ósseo, para que possa ser encaminhado a um centro especializado onde faça o diagnóstico e seja submetido ao melhor tratamento possível”.

Apesar de corresponder a somente 1% ou 2% dos cânceres em geral, o ósseo constitui foco muito importante de disseminação do câncer de outros órgãos. “São as metástases ósseas. Por isso, acaba tendo duplo interesse”, comentou o ortopedista oncológico. Na população infantojuvenil, o câncer ósseo é o terceiro mais frequente, depois das leucemias e do câncer do cérebro.

Edgard Engel explicou que o câncer ósseo primário tem dois picos de incidência, sendo um em crianças, adolescentes e adultos jovens e outro no paciente mais idoso, onde o principal diagnóstico é o mieloma múltiplo. Na faixa etária mais jovem, uma das manifestações  comuns da neoplasia óssea é o aparecimento de uma massa dura, ou massa óssea, muitas vezes acompanhada de dor mais ou menos intensa. “Eventualmente, pode ter outro sintoma relacionado à localização, como limitação de movimento, dificuldade de andar”.

Radiografia

O médico esclareceu que o câncer ósseo, com exceção do sarcoma de Ewing, em geral não apresenta sintomas clínicos sistêmicos, como febre e perda de peso. A primeira avaliação no paciente pode ser feita por um clínico geral em um posto de saúde, orientou o presidente da ABOO. “Uma dor óssea que aparece e não tem explicação, que limita a atividade, não passa com o tempo, uma dor que persiste após duas semanas, merece investigação com radiografia”.

A radiografia feita com qualidade vai mostrar qual é a causa e, se for um câncer, vão aparecer as alterações do esqueleto. Uma observação mais cautelosa da radiografia já permite ao médico dizer que alguma coisa está errada e, então, encaminhar para um ortopedista ou, se já houver a confirmação de câncer, encaminhar a um centro de referência.

“A gente faz muita questão de que esse encaminhamento, depois de confirmada a suspeita de câncer ósseo, seja para um centro de referência, porque a biópsia, um dos primeiros procedimentos a serem feitos, tem que ser realizada com parcimônia. O ideal é que o cirurgião que vai fazer o tratamento definitivo faça também a biópsia. A gente reforça a ideia de que esse encaminhamento seja precoce”. Esses centros especializados têm mais presteza e rapidez para fazer os exames necessários, observou.

A neoplasia óssea é um crescimento descontrolado das células que provoca tumores sólidos ou crescimento grande de células anormais. Quando esse tumor tem a capacidade de se disseminar para outros órgãos e passa a ser uma neoplasia que oferece risco à vida, é denominado tumor maligno.

Já as neoplasias em que existe crescimento e, eventualmente, destruição do osso ou dos tecidos vizinhos, mas sem capacidade de se disseminar para o resto do corpo e afetar outros órgãos, são chamadas tumores benignos. Em sua maioria, não oferecem risco à vida, a não ser que estejam localizadas em região de muito difícil acesso ou tratamento.

A estimativa é que 6,3 mil novos casos de tumor ósseo maligno surgem no Brasil a cada ano. Não há estatística para tumores ósseos benignos, explicou o presidente da ABOO. Isso se explica porque muitos desses tumores são assintomáticos. Não têm nenhum tipo de dano à saúde, de queixa, dor. “Nada disso aparece. Muitos deles são encontrados, fortuitamente, em exame simples de Raio X ou uma ressonância”.

Tratamento

Como existem vários tipos de câncer ósseo que podem afetar diferentes faixas etárias, o tratamento varia bastante. Os tumores mais comuns, que acometem crianças e adolescentes, são o osteossarcoma e o sarcoma de Ewing, Eles são tratados inicialmente com quimioterapia durante cerca de três a quatro meses, para que os exames de sangue sejam normalizados. Aí, é possível fazer a cirurgia para retirada do tumor, seguida de reconstrução. O paciente, então, volta à quimioterapia. O tratamento completo dura de oito a dez meses. “É importante que ele volte à quimioterapia para consolidar o tratamento e conseguir o resultado esperado”.

No caso dos idosos, alguns pacientes são operados de imediato, logo após o diagnóstico, e outros dispensam o tratamento com quimioterapia. Alguns tumores são tratados inicialmente com quimioterapia e, eventualmente, nem precisam de cirurgia. Vai depender da avaliação inicial do médico, feita com o auxílio de exames.

A campanha “Abril Amarelo” alerta para a importância do diagnóstico precoce do câncer ósseo. Edgard Engel destacou que a raridade da doença é a principal dificuldade para o diagnóstico precoce, uma vez que a dor pode ser confundida com outras afecções mais comuns e tratada de forma sintomática.

As metástases são os tumores malignos mais frequentes dos ossos. Os cânceres primários que mais comumente podem levar ao desenvolvimento das metástases ósseas são próstata, mama, pulmão, rim, tireoide, bexiga, intestino e estômago. Os ossos mais acometidos são os do crânio, das costelas, da coluna, bacia, do úmero (osso do braço) e fêmur (osso da coxa).

Oncologia ortopédica

A oncologia ortopédica se ocupa do tratamento dos tumores ósseos benignos e malignos, primários e metastáticos e dos tumores de tecidos moles. Alguns cânceres, como osteossarcoma e sarcoma de Ewing, têm grande capacidade de produzir metástases, enquanto outros, como o condrossarcoma, raramente o fazem, informou a associação.

A entidade realiza o Congresso Brasileiro de Oncologia Ortopédica, considerado o maior evento de tumores musculoesquelético do Brasil. Este ano, a décima segunda edição do congresso será de 27 a 30 deste mês, em Gramado (RS). Conferencistas nacionais e internacionais debaterão os avanços no diagnóstico por imagem, novidades no tratamento dos sarcomas ósseos e de partes moles, tumor desmoide, metástases ósseas, entre outros temas. 

Fonte: Agência Brasil

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