Hoje, Fernando enoja Beatriz: é possível perder a compatibilidade sexual?

Beatriz foi criada no interior, mas mora na capital. É dona do próprio umbigo, da própria moradia e paga as suas contas. Está com 33 anos e se sente “velha”. Já fez terapia para dar conta de uma mãe controladora, tradicional, que fala pelos cotovelos e é dramática, um pai passivo e um irmão meio esquisitão.

Seu último relacionamento foi psicologicamente tóxico, cheio de ciúme, controle e muitas brigas, mas ela trabalhou firmemente e conseguiu renunciar à parte que carrega da mãe, dentro de si.

Agora ela veio em busca de compreender o que fazer com Fernando, um rapaz com quem está saindo, e que ela já namorou 10 anos atrás. Eles têm muitos valores em comum, além do fato dele ser fofo, inteligente e “doido” por ela.

Por mera “coincidência”, ele foi morar no mesmo condomínio que ela, agora que mudou para a capital. Pediu ajuda com a arrumação do apartamento, interfona para uma pizza, um vinho, para dar bom dia. Estavam se apoiando mutuamente e aproveitavam o período de solteirice para tirar o atraso da tensão sexual acumulada, da necessidade de carinho e toque.

Hálito repelente

Tudo parece tão encaixadinho, não fosse o fato de ela não aguentar o cheiro dele. Não é o perfume, não é falta de banho, mas um odor que ela sente quando se beijam. Não, segundo ela não é bafo. Fuma? Não. É adepto de alguma dieta específica (tipo o povo que só come peito de frango, batata-doce e clara de ovo)? Que ela saiba não. Problema nos dentes? Não.

É o cheiro do hálito dele que a repele. O mais curioso é que Beatriz não lembra de ter sentido isso antes, na época do namoro.

Para compreender melhor se era possível promover esse excelente PA ao cargo de futuro namorado, Beatriz levou em consideração as habilidades sexuais de Fernando.

Muito embora algumas pessoas tenham mais dificuldade de se abrirem e se desenvolverem sexualmente, penso que a maior parte de nós é sim capaz de melhorar sua performance na cama. E sobre esse quesito, Fernando era ok.

Então, ela passou a investigar sobre química sexual, um daqueles conceitos que ninguém explica direito, sendo o “sentir” a melhor definição. É como uma peça de quebra-cabeça que encaixa perfeitamente. Aquela “pegada” que torna real os devaneios eróticos, uma coisa de pele, uma explosão erótica que flui com naturalidade e que o nosso corpo decifra antecipadamente.

Embora a tal química da atração tenha vários componentes, ela achou uma pesquisa que explica a sensação de conforto ou repulsa quando encontramos parceiros com um sistema imunológico diferente do nosso.

Mas qual seria a explicação para o fato de Beatriz ter tido duas percepções completamente distintas da incompatibilidade do cheiro da saliva do Fernando? Ela pode ter sido traída pela memória ou alguma questão fisiológica especifica que tenha modificado a química entre eles nos diferentes períodos que se relacionaram?

Fiz algumas investigações com colegas e estudos, e encontrei uma teoria que envolvia a ingestão de pílulas contraceptivas hormonais, que “casava” com o histórico dela. Sob o efeito de pílulas anticoncepcionais, que levam os níveis hormonais iguais aos da gravidez, o DNA mais favorável é justamente um que seja familiar e não o opositor, o que acontece quando ciclamos normalmente.

Mas essa tese não é sustentada para todos os casos; há uma gama enorme de possibilidades na compatibilidade, o que pode não produzir efeitos tão impactantes na aceitação corporal do outro.