Biodança, ovnis, perucas: com o que trabalham as novas profissões

Lista oficial de ocupações foi atualizada pelo Ministério do Trabalho

Ela tem a habilidade de transformar completamente a aparência de uma pessoa. Basta mudar textura, comprimento e cor do cabelo, e surge uma nova personalidade. Raquél Reis, de 41 anos, é confeccionadora de perucas há mais de uma década. Já produziu até 200 cabelos diferentes em um mês. Uma rotina pesada de trabalho, que atende desde profissionais do mundo das artes, até pessoas comuns que sofrem com a queda de cabelo por causa do tratamento contra o câncer.

“É um trabalho muito puxado e custoso. A pessoa quer que você faça por medida, no formato da cabeça dela, tem que tirar medidas, fazer marcações, fio a fio, para aparecer tudo maravilhosamente natural. É complicado”, diz Raquél. “Mas eu amo esse poder da transformação. Toda vez que faço uma peruca para alguém, primeiro coloco em mim, vejo se estou feliz e confortável, depois passo para a minha cliente. É um mercado lindo, crescendo cada vez mais. Antigamente, tinha o preconceito da peruca. Hoje, não”.

O trabalho de confeccionador de peruca é uma das 19 novas profissões reconhecidas no Guia Brasileiro de Ocupações. Ele foi lançado na quinta-feira passada (6) pelo Ministério do Trabalho e Emprego e a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Raquél Reis diz que a produção de perucas garante uma remuneração suficiente para pagar as contas. A demanda antes da pandemia era maior, mas vem aumentando progressivamente. Ela prefere trabalhar de forma autônoma, para conseguir atender desde clientes comuns até produções artísticas maiores para o cinema, televisão e teatro. Atualmente, está envolvida na peça O Rei Leão, em cartaz em São Paulo. Já trabalhou para os filmes Nosso Sonho, sobre a dupla Claudinho e Buchecha, e Mamonas Assassinas.

A demanda de pessoas com câncer, que perdem os cabelos por causa da quimioterapia, também costuma ser alta. Raquél já atendeu 18 pessoas com essa necessidade em um mês. Um trabalho que, apesar de não trazer ainda um retorno financeiro alto, traz muita satisfação em poder ajudar as pessoas a recuperarem um pouco da autoestima.

“Quando a pessoa está começando a quimioterapia, eu consigo tirar o próprio cabelo da cliente e fazer a peruca. Antes, eu pedia para alguns amigos coletarem cabelo. Mas um dia ninguém podia ir e eu fui junto, acabei chorando junto com a cliente. Agora estou sendo mais profissional. É difícil ver uma mulher perdendo o que ela ama, porque isso é a moldura do nosso rosto. Mas a pessoa chora no momento e, depois que ela coloca o cabelo, volta a sorrir”, diz Raquél.